VESPA - PX200E 1987
Opa! começamos a sair um pouco do mundo "trail" dos anos 80. Essa postagem vai agradar em cheio aos "mauricinhos" de plantão! Mauricinhos não, desculpe, estamos de volta aos 80, eram os "almofadinhas"...
Brincadeiras à parte e sem discriminações (afinal de contas eu mesmo fui um "vespeiro" em 1990), a Vespa, em meados dos anos 80 eram o ícone do Mauricinho Brasileiro. As razões eram muitas:
- Era moda na Europa;
- Conservava as roupas limpas;
- Fazia com que seu condutor tomasse menos chuva que os demais mortais que se aventuravam em duas rodas;
- e pra coroar: tinham porta-luvas e até mesmo estepe!
Pena não vir com luvinhas pra não encardir as cutículas de seus condutores no momento da troca de pneus..
Não podemos deixar de falar que, apesar das mulheres serem pouco presentes no motociclismo brasileiro dos anos 80, a Vespa era sem duvida uma porta de entrada para elas pois dava até mesmo pra pilotar usando saias!
A Vespa deste post é aquela que foi relatada anteriormente no post "Do namoro ao casamento", é um exemplar fora do comum, absolutamente original de fábrica, com apenas 4.400km rodados, daquelas que enchem os olhos do apreciador tamanha fartura de itens originais e intocados no decorrer dos quase 28 anos de vida.
Antes de qualquer coisa, vamos observa-la atentamente: É uma moto! Sem duvida. Tem 2 rodas, um guidão, um banco para 2 pessoas, mas tem muito de carros também: Tem chassi como os carros e não quadro como uma motocicleta, o cambio é na mão, tem porta-luvas (espaçoso), tem estepe... enfim, é um outro bicho. Hoje conhecemos como scooter, naqueles tempos era chamada de motoneta.
A brincadeira toda começa no pedal de partida que fica em seu lado direito, dar a partida na vespa é muito simples, o pedal é muito leve e ela pega sempre logo de primeira, pela manha com o uso do afogador (por ter a mecânica praticamente toda escondida atras das carenagens, o afogador, a torneira de combustível, o visor do nível do óleo 2 tempos ficam todos "espetados" em pequenos orifícios do chassi, próximo ao tornozelo do condutor). O motor colocado em funcionamento e mais uma semelhança aos automóveis aparece: o ruido do motor, é muito abafado, bem diferente das motos, ainda mais se levarmos em conta que a vespa possui um motor 2 tempos de 200 cilindradas.
Uma vez aquecida, hora do passeio! Você se lembra da primeira vez que dirigiu um carro com cambio automático, acostumado com o uso do cambio manual e embreagem? Lembra que, a cada troca de marcha que o cambio ia fazer automaticamente, seu instinto levava o pé esquerdo a frente, procurando por um pedal de embreagem que inexistia? (e alguns carros ainda traziam um pedal gigantesco de freio, fazendo com que a frenagem violenta com pé esquerdo fosse inevitável!), pois é, com a Vespa a coisa é mais ou menos por ai, trocar marchas usando a mão esquerda, ao mesmo tempo que a embreagem é puxada - também com a mão esquerda - é uma tarefa que exige concentração, pelo menos nos primeiros quilômetros rodados. Por outro lado, depois que se acostuma com ela, torna-se uma atividade muito prazerosa!
O desempenho da Vespa é modesto, mas é justamente essa a proposta deste veiculo. Seu motor foi feito pra DURAR e ECONOMIZAR, e não para gerar grandes desempenhos e performance de motos esportivas! (curiosamente adequado às necessidades dos "almofadinhas" dos anos 80... performance? pra que? pra passar vergonha? heheheh). Quando se fala em economizar, não me refiro apenas à economia de combustível, mas baixíssima manutenção e altíssima durabilidade. Por outro lado, justamente esse desempenho modesto é que traz grande prazer pra quem a pilota, as trocas de marcha em baixas rotações, a tocada suave, despretensiosa, é uma delicia. Diversão garantida em qualquer domingo de sol, nas ruas tranquilas dos bairros de cidades de interior.
A Vespa no Brasil teve poucas opções de modelos, eram basicamente a mesma Vespa com opcionais vindo de fabrica e caracterizando os diferentes modelos. Esse modelo da reportagem é dos primeiros lançados, PX200E. Ainda em 1987 foram lançadas as versões PX200S (praticamente igual à PX200E deste post), PX200GT com mais acessórios, detalhes, borrachas de proteção nas laterais, bagageiro traseiro, tapete etc e por fim a top de linha que era a PX200ELESTART, essa vinha com tudo que a GT trazia, mas incluía no pacote a partida elétrica e calotas nas rodas! Um luxo! As mais novas traziam também um charmoso sinalizador auditivo que era acionado quando a seta estava acionada.
Os modelos mais antigos, traziam friso em torno do escudo frontal cromado (como a deste teste) ja as mais recentes vinham com o mesmo friso em preto! Houve também uma mudança posterior no painel de instrumentos, mas muito discreta, apenas algumas cores e grafismos internos.
A Motovespa era o fabricante da Vespa no Brasil sob licença da Piaggio italiana, oferecia uma vasta linha de acessórios nas concessionarias da marca, praticamente todos os itens oferecidos na versão top de linha podiam ser colocados nas versões básicas, alem desses ainda eram oferecidos itens exclusivos, como para-brisas por exemplo.
A "customização" estava em alta e todos "equipavam" suas Vespas. Isso torna mais difícil atualmente a tarefa de identificar um modelo, e é muito raro ver uma Vespa totalmente original e sem acessórios de época instalados. As opções de cores eram muitas, outra característica que aproximava a Vespa dos automóveis. Haviam Vespas vermelhas, azuis, prata, verdes,brancas etc... Procurei encontrar uma forma análoga de comparar o que representava a Vespa naqueles tempos, com que veiculo moderno ela se compara... não encontrei nenhuma moto que tenha essa pegada, mas entre os carros é fácil: ela seria o "fiat cinquecento" dos dias de hoje... Alegre, divertida, retrô, colorida, desempenho modesto, cheia de historia .... torcendo pescoços e arrancando sorrisos por onde passa!
Voltando a pilotagem, o entre-eixos curto e as rodas de 10 polegadas dão um comportamento dinâmico "arisco" à pequena motoneta, as mudanças de direção são rápidas e a Vespa inclina bem, claro que as limitações logo aparecem, e as "partes baixas" começam a raspar em curvas mais ousadas. Mas não vamos nos iludir com esse comportamento arisco, a festa limita-se às baixas velocidades. Em alta (alta... alta velocidade... não tem de Vespa, né ? mas vamos dizer assim, acima dos 70 km/h) a Vespa se mostra bem imprecisa nas curvas, fazendo com que a trajetória seja corrigida inúmeras vezes durante uma mesma curva. Culpa da péssima distribuição de peso (motor, piloto e passageiro, combustível - todos estão sobre o eixo traseiro) e em parte menor pelo escudo frontal que faz com que a aerodinâmica não seja seu ponto alto.
Vespas e Lambretas antigas viraram "moda" hoje em dia, não apenas no Brasil, mas em todo mundo, grupos de fãs se reúnem frequentemente, organizando passeios e encontros:
Com estilo inconfundível, suas formas que vieram da industria aeronáutica (ha relatos que o engenheiro Corradino D´Ascanio, um engenheiro aeronáutico, recebeu a missão de criar um veiculo econômico, barato, simples e inteligente, que pudesse ser produzido no pós guerra, utilizando-se inclusive sobras e materiais - a bequilha dos aviões por exemplo - do esforço de guerra, do qual a industria Piaggio fez parte) , o resultado foi tão sensacional, seu design e estilo, fizeram da Vespa um ícone de enorme sucesso. Cultuada por todo o planeta em diferentes momentos, da cultura "Mod" londrina dos anos 60, jovens que curtiam blues e rock - ouviam The Who por exemplo:
Passando pelas celebridades de Hollywood - Audrey Hepburn, Gregory Peck, Henry Fonda foram fotografados em uma Vespa- Ainda hoje, quase 70 anos depois do lançamento do primeiro modelo, é cultuada por grupos de todas faixas etárias, parte de uma subcultura de adoradores das motonetas.
E até mesmo quando, já fora de circulação, não servem mais como veiculo, as Vespas não viram sucata: são transformadas em objetos de decoração luxuosos - coisa de quem efetivamente TEM design genial !
A propaganda não estava errada: Vespa não existe nada igual
Ficha Técnica:
Motor: monocilíndrico 2 tempos de 197 cc, potencia máxima de 12,25 cv a 5700 rpm
Transmissão: embreagem a disco múltiplo, cambio de 4 marchas com comando por alavanca do lado esquerdo do guidão. Transmissão direta através de engrenagens sempre ligadas sem corrente a outro grupo de transmissão direta.
Carburador: dell´orto SI-24/24
Ignição: Eletrônica (CDI)
Elétrica: 12v 3Ah
Chassi: monobloco em chapa de aço estampada de forma aberta em concha
Suspensão: dianteira e traseira com molas helicoidais e amortecedores hidraulicos de efeito duplo.
Freios: dianteiro e traseiro a tambor
Rodas e Pneus: intercambiáveis, com aros de aço estampado de 2.10´´, pneus de 3.50 x 10´´ (pirelli SC30) com estepe.
Dimensões: comprimento 1760 mm, largura 695 mm, altura 1110 mm
Peso: 113 kg
Inclinação (em subida): máxima superável 42% com duas pessoas.
Velocidade Máxima: 110 km/hConsumo: 30 km/l
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