PECADOS CAPITAIS DA RESTAURAÇÃO
Algumas pessoas preferem confiar o serviço de restauração a um restaurador renomado. Ótimo! Mesmo sendo renomado, é importante conhecer alguns de seus trabalhos antes de confiar a ele a sua motocicleta. Veja pessoalmente (fotos não, tá?) algumas motos que ele restaurou, se possível alguma do mesmo modelo que você deseja restaurar e confira os detalhes da moto pra ver se estão realmente próximos, ou idênticos ao original.
Caso você tenha bons conhecimentos de mecânica, pintura, funilaria, esteja com tempo sobrando e queira realizar o sonho de restaurar sua própria moto, tá valendo também, mas os cuidados são inclusive maiores se for o caso, pois o profissional conta (ou deveria contar) com bancadas, ferramentas, torquímetros, estufas de pintura, compressores com filtros de umidade e etc - e possivelmente você vai fazer a coisa mais artesanalmente.
Seja em um restaurador profissional ou caso o proprietário resolva restaurar sua própria motocicleta, alguns erros básicos merecem ser destacados.
A GULA: talvez seja o erro mais comum, por excesso de capricho, o proprietário "melhora" o acabamento da moto, por exemplo mandando cromar peças que originalmente eram zincadas (raios, porcas, parafusos). A moto fica LINDA! Mas fica distante do original. Transferindo o conceito para um automóvel por exemplo, imagine um opala 1979, lembre de seu bonito estofamento de veludo cotelê... e imagine o restaurador faze-lo com estofamentos de couro?! pois é, pode ser até mais bonito (eu não acho), melhor, mais durável, mais nobre... ele pode (pior ainda) até usar o melhor couro que conseguir trazer da Europa, ou Alcântara do Japão. gastar um dinheirão... mas é simples: fica diferente do original, e não é o que procuramos. Ou aqueles carros em que se abre o capô e está tudo cromado?! (eca!)
A VAIDADE: sua moto atravessou 20, 30 ou mais anos até chegar às suas mãos, com isso pequenos riscos apareceram no tanque, um ou outro amassadinhos aqui e acolá, um pontinho de ferrugem no aro, um raladinho em um para-lama, enfim, no jargão dos colecionadores isso se chama "pátina" e o proprietário da moto tem que avaliar muito bem o que será é o que não será restaurado. Remover essa pátina nem sempre é a melhor escolha, quase nunca é...as vezes é melhor ter a moto com a pintura original, pintada lá dentro da fábrica nos idos de 80, do que vê-la brilhando e com aparência "artificial" depois de repintada. Lembre-se também, e isso é muito importante, que a motocicleta envelhece toda por igual, a pintura amarela, o banco desbota, o painel desbota, os pneus ressecam... Se você pintar ela todinha, o banco e o painel que estão desbotados e antes estavam de acordo com o conjunto, vão se destacar negativamente! Talvez seja melhor deixar o conjunto todo um pouco mais apagado... avalie com cuidado.
A LUXÚRIA: se você decidiu que realmente a pintura dela está ruim e precisa ser repintada, atenção para usar a mesma cor e o mesmo processo que o fabricante usou. Cuidado pra não cometer o pecado da luxuria. Se a pintura era convencional, convencional deverá ser a nova pintura... Nada de pintar a pó, a fogo, eletrostática etc se não era esse o processo que o fabricante usou originalmente. Não existe essa história de "melhor do que era antes" a nossa ideia não é absolutamente melhorar nada, portanto sem fantasias! Queremos simplesmente que ela volte a ser como era, com todas as qualidades, todos os defeitos e vícios que haviam naquela época - aí está o charme das antigas!!
A PREGUIÇA: Dizem por ai que o "melhor" dos pecados capitais é a preguiça, pois ela te impede de cometer todos os demais... mas, já que você começou a restaurar, demonstrou não ter preguiça, não vamos comete-la durante o processo de restauração, não é mesmo? Adesivos e vernizes - não encontrou o adesivo no mercado, vamos pintar o grafismo no tanque? É uma solução sem dúvida, mas isso empobrece demais a restauração. Se o processo que o fabricante usou foi: tinta no tanque, verniz e depois de seco aplicou adesivos, ou se o verniz veio por cima dos adesivos, você deve garimpar (pois é garimpar faz parte! Dá trabalho mas recompensa!) o tal adesivo e fazer o processo exatamente da mesma forma. Atenção - partes plásticas normalmente são adesivadas e não recebem verniz.
A AVAREZA: Em minha opinião neste caso não há meio termo, ou a peça é original ou não é... Não existe isso de "modelo original", é uma forma bonita de vender peças do mercado paralelo.
A restauração busca deixar a moto o mais próximo possível do que era quando saiu da fábrica, e certamente ela saiu de fábrica com as peças originais. Não tem conversa nesse quesito, peças tem que ser originais se formos falar de uma restauração de alto nível. Portanto, procure-as!
A história se repete, dá trabalho e bastante achar as tais peças... Idas às concessionárias, telefonemas, sites especializados, até mesmo importar do país de origem da moto funciona, e quer saber o pior de tudo, alem do trabalho em localiza-las, as peças originais são inúmeras vezes mais caras do que as peças do mercado paralelo.
Mesmo que seja uma pecinha escondida, um dia ela será revelada e a qualidade do seu trabalho colocada em duvida...
Se lâmpadas, borrachas, filtros, cabos, manoplas são importantes, imagina só plásticos, aros, tanques, espelhos, ponteiras do escapamento, lentes dos piscas, faróis, os instrumentos então? E as peças de motor? Essas peças devem obrigatoriamente ser originais... E ai vale aquela história: melhor um para-lama com pequeno risco mas original, do que um para-lama brilhando, tinindo de novo, do mercado paralelo... Se quer uma dica de economia? Restaurar uma CG125 custa menos do que restaurar uma CB750F, que custa menos para ser restaurada do que uma CBX1050... portanto restaure motos que estejam de acordo com seu orçamento.
Já os 2 últimos pecados, IRA e INVEJA não condizem com o nosso comportamento de motociclista, certo?
Ai a receita é simples: se algum destes 2 sentimentos aflorarem em você, vá dar uma volta de moto que isso passa rapidamente!
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Deve ser mesmo muito legal poder($$$) restaurar uma moto, um "passatempo" sensacional.
ResponderExcluirUm trabalho minucioso, de talentos mesmo.