AGRALE DAKAR 30.0 - 1988




Com um temperamento tipicamente italiano, explosívo, potência em altos giros, tecnologia muito avançada para os anos 80, assim eram as Agrale.  Também pudera, vinham de uma linhagem italiana de renome - a Cagiva. A Agrale anunciava essa "transferencia de tecnologia" já naqueles tempos, diziam "Agrale, aqui pulsa um coração Cagiva", o que viémos a saber mais tarde é que as motos lançadas aqui não eram fruto apenas de uma transferência de tecnologia, eram simplesmente idênticas às irmãs italianas. Prova disso é que hoje é possível comprar peças via internet (e-bay por exemplo) das "Cagiva Aletta Rossa" na Itália e em sua maioria esmagadora são intercambiaveis. 


Até mesmo o esquema de cores da Agrale Dakar desta matéria é o mesmo que a cagiva 750cc usava na moto do piloto Edi Orioli no rally Paris-Dakar





Mas isso não é nada que a desabone, muito pelo contrário, é apenas uma das curiosidades que combinamos de revelar nestas páginas...

Mas o que elas traziam de tão interessante ?

Motor 2 tempos de alta potência (30 cavalos para 200 cilindradas, enquanto uma XLX350R, precisava deslocar 350 cilindradas para gerar os mesmos 30 cavalos...)
Freio a disco da grife Brembo
Refrigeração Líquida
Termômetro do líquido refrigerante
Indicador digital de marchas (em algumas versões)
Farol de lâmpada Bi-iodo
Aros de alumínio (em algumas versões)

Sem dúvida era uma moto extremamente moderna! Obrigado Agrale, por nos trazer à atualidade numa época de importação proibida e de um mercado polarizado por dois gigantes mundiais.  Uma atitude de muita coragem e empreendedorismo!


Outra curiosidade sobre as Agrale era o fato de sua cilindrada não ser divulgada como é comum em motocicletas do mundo inteiro, fazendo parte da nomenclatura da moto, e mais curioso ainda era que os números constantes, tanto na nomenclatura quanto nos adesivos das motos referiam-se a potencia do motor (ex.: 30.0 => 30 cavalos  // 27.5 ==> 27,5 cavalos).



Mas, nem tudo foram flores, as primeiras Agrales (chegaram nas concessionárias a partir de 1984) tinham alguns problemas crônicos: discos de freio que enferrujavam, motores que ferviam, pequenos problemas de acabamento, parte elétrica frágil, e lamentavelmente a Agrale demorou uns 4 anos pra resolvê-los (as Agrale chamadas "série 2", da qual a moto da matéria faz parte, foram lançadas em 1988). Isso fez com que, apesar do esforço da fábrica em lançar rapidamente novos e mais atuais modelos, a agrale definitivamente não tenha caído no gosto do consumidor dos anos 80. A não ser em alguns nichos como por exemplo o modelo EX 27.5 - já saia de fábrica preparado para trilhas, a agrale foi perdendo espaço aos poucos até parar por completo em meados da década de 90.  O que faz com que elas (as poucas em boa condição que sobraram) sejam disputadas "à tapa" por colecionadores atualmente.









Acelerar uma Agrale é uma delicia. A partida é a pedal, mas muito leve e fácil de pegar.O barulho emitido pelo escapamento dimensionado é peculiar, estridente, nervoso, chama muita atenção por onde passa. 

Ligou ? ela estava fria ? vai sair ? bem, nada tão simples assim, se você simplesmente engatar a primeira marcha, a Agrale vai dar um pulo pra frente e o motor vai apagar, isso porque com certo tempo parado e motor frio, os discos da embreagem "colam" uns nos outros, os recursos pra sair com ela fria vão desde dar algumas (muitas) bombadas no manete da embreagem antes de engatar a primeira marcha, até mesmo dar um pouco de rotação no motor no momento de engatar a macha e empurrar a moto um pouco pra frente na mesma hora (ou tudo ao mesmo tempo), aliviando o trabalho e fazendo com que a própria força do motor ajude a descolar os discos teimosos. Mas felizmente isso acontece apenas uma vez por dia!

A potência começa a aparecer de forma bruta à partir dos 5.500 rpm, é possível levantar a frente da moto nas 3 primeiras marchas usando apenas a brutalidade de seu motor, isso, embora seja divertido, não é muito eficiente, no dia a dia a pilotagem no estilo "tudo-ou-nada" se mostra cansativa e comparando seu desempenho com sua principal concorrente na época (a Honda XLX350R), apesar dos números de aceleração e velocidade máxima serem muito parecidos, a XLX levava vantagem em praticamente toda situação. A exceção ? Claro, havia nesta regra como em qualquer outra, ficava por conta de pilotos profissionais que eram capazes de tirar tudo que aquele motor podia gerar, mantendo-os em uma estreita e alta faixa de rotações durante toda a tocada (faixa curiosamente marcada no conta-giros com a cor amarela). Cansativo sim, mas neste caso, muito prazeroso.

Outras características de motores 2 tempos, às quais os motociclistas modernos não estão acostumados e alguns até mesmo desconheçam, são o odor característico de óleo queimado e a fumaça expelida pela ponteira do escapamento (uma pena que, com o uso dos modernos óleos 2 tempos sintéticos isso tudo seja reduzido - por outro lado o motor e escapamento não se carbonizam mais, a manutenção se torna mais simples e menos constante...) e não podemos deixar de falar na total ausência de freio motor - característica intrínseca dos motores 2 tempos.

Outra coisa que chamava muita atenção nas Agrale, era o enorme tanque de combustível que as versões "elefant" traziam. Com dimensões "dakarianas", esses tanques tinham capacidade de 18 litros e eram o primeiro item a ser aliviado da moto por quem queria usá-las na trilha, eram frequentemente trocados por tanques bem menores 10 a 12 litros, de material plástico. Eram também os primeiros a amassar em casos de tombos. Haviam as versões EX (preparadas de fábrica para enduro) e STX que traziam tanques menores.

A Dakar 30.0 era o modelo top de linha da marca no final da década de 80, era o modelo mais adequado para uso em estradas, gostoso nas cidades e pouco adequado nas trilhas e enduros, pelas razões que expusemos aqui.

No começo deste ano, o amigo e ex editor da revista Duas Rodas, Cícero Lima, saiu num passeio comigo usando a Dakar 30.0 e a XL250R, o resultado deste passeio foi publicado no site UOL e teve muita repercussão, como mostram os comentários dos leitores. É curiosa essa matéria, o editor, muito experiente com motocicletas e  acostumado a escrever para um público especializado (o leitor de uma revista especializada em motos) dava seus primeiros passos num site tão genérico como o UOL, de público amplo e bem mais informal.O fato é que "a pegada" da matéria foi mais técnica e me parece que o público queria ler algo mais "romântico" sobre as motos antigas. Resultado ? Uma saraivada de reclamações e até mesmo alguns impropérios, demonstrando o quão apaixonado e saudosista é o leitor. Na minha opinião, Cícero foi mal compreendido, a matéria é extremamente válida e foi muito bem conduzida, ele nos mostra um lado das "antigas" que simplesmente nos recusamos em enxergar, ele com maestria soube nos mostrar isso..: Acompanhe! Leia aqui.

                                Mamola acelerando uma Agrale ???

É, pois é, até ele, o genial Randy Mamola deu seu passeio (claro, em alta velocidade!) na Agrale Dakar 30.0 1988 (idêntica a desta matéria) no autodromo de Goiania, GO, durante o GP Brasil do mundial de motovelocidade de 1988, tudo devidamente registrado pela (corajosa) repórter Mariana Rita e publicado pela revista Moto Show em sua edição 68 em outubro de 1988:



Ficha Técnica:

ESPECIFICAÇÕES
Motor:190cc, 2 Tempos, 1 Cilindro, Refrig. Líquida
Potência:30 cv a 8.250 rpm
Alimentação:1 Carburador 25mm
Lubrificação:Automática por Bomba
Ignição:Eletrônica
Partida:A Pedal
Transmissão:6- Marchas
Comprimento:2120mm
Largura:915mm
Altura do assento880 mm 
Peso à seco:130kg
Suspensão dianteira:Garfo Telescópico, curso de 215mm
Suspensão traseira:Mono-amortecedor Regulável, curso de 215mm
Freio Dianteiro:Disco 
Freio Traseiro:Tambor 
Pneus:2.75×21 (frente), 4.10×18 (traseiro)
Tanque:18 Litros
Medições
Vel. máxima:137 Km/h
0 a 100 Km:8″3
Consumo médio:18 km




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