AVENTURA: A QUEBRADA DO COZINHEIRO





Na volta daquela longa e rápida viagem que fiz sozinho para o Atacama em 2001, depois de uma espera de quase quatro horas na Aduana Chilena para liberar minha moto cheguei no fim da tarde ao hotel em San Juan, cidade ao norte de Salta na Argentina. 


Vale a pena relatar o motivo da espera. Ao chegar na fronteira geográfica entre a Argentina e o Chile, no Paso de Jama, por volta de 6 horas da tarde, depois de ter caído no ripio molhado e ficar atolado quase uma hora num riacho que não existia há anos, numa das inúmeras mesinhas do posto da aduana, um funcionário pediu o documento da importação temporária da moto para poder entrar e depois sair do Chile. Fiquei muito surpreso, afinal não estávamos na fronteira onde deveria ser feita a importação temporária? Com a maior calma ele falou que eu devia ter feito o documento em Susques e eu teria que voltar pra faze-lo. Caso contrario teria problemas pra sair com a moto do Chile dias depois. Àquela hora da tarde e tendo acabado de passar pelas dificuldades do dia respondi com a cara mais simpática possível: Daqui não saio, daqui ninguém me tira. Iria dormir em algum banco do posto de fronteira para ver o que fazer no dia seguinte. O fato devia ser frequente, muita gente devia passar batido por Susques e chegar ali sem este documento.
Ao abastecer a moto no famoso posto do índio em Susques, único da travessia nesta época, o frentista falou alguma coisa de fronteira num misto de quechua e portunhol que sinceramente não entendi e saindo do posto numa rua que acabava em T, sem nenhuma sinalização, virando a esquerda era o caminho do Chile, pra onde o GPS apontava, e virando a direita ficava o posto da gendarmeria há poucos metros onde deveria ser feita a aduana. Seguindo o GPS virei a esquerda. Primeira vez que o aparelhinho me apronta.
O simpático funcionário do posto da fronteira quebrou meu galho. Disse que no dia seguinte passaria um portador e levaria os dados da minha moto a Susques pra comprovar minha passagem por lá e assim  poderia prosseguir minha viagem.
Na volta ao chegar na guarita do posto da aduana Chilena no Paso do Cristo Redentor a simpática policial pediu meus documentos e notou a falta da importação temporária. Contei toda a história e ela sorridente disse não haver problema mas eu deveria conversar com o chefe da aduana. 
Repeti toda a historia pro chefe que ficou de entrar em contato com a aduana de Susques, via rádio SSB, pra confirmar a entrada da minha moto no seu país.
Agradeci muito a gentileza e fiquei de pé esperando ao lado da porta do seu escritório e ele gentilmente disse que eu podia sentar. Depois de três horas de espera ele apareceu  dizendo que eu podia ir embora, tinha conseguido falar com Susques.
Neste dia acabei andando pouco. Tinha saído cedinho de Los Andes no Chile e pretendia chegar em Santiago Del Estero na Argentina mas só consegui alcançar a cidade de San Juan.
Enquanto desmontava a bagagem da moto no estacionamento do hotel o cozinheiro chegou com sua motinho pra preparar o nosso jantar e começamos aquele papo típico de motociclista, de onde você vem, pra onde você vai, quanto custa sua moto, etc. 
Grande conhecedor da região, ele sugeriu um caminho alternativo que além de mais curto iria por uma estradinha mais bonita e com pouco movimento de caminhões. Mostrou a estrada no mapa da bolsa de tanque da minha moto.
Enquanto esperava o jantar que por aquelas bandas começa tarde (21 horas) refiz meu roteiro do dia seguinte incluindo a quebrada do cozinheiro.
No dia seguinte sai cedo pegando a estrada federal que vai pra Buenos Aires atento pra não perder a entrada da quebrada do cozinheiro. No ponto indicado virei a esquerda em direção norte na tal estradinha. Era uma pista asfaltada, muito estreita, que ia serpenteando entre pequenas elevações com alguns trechos cobertos pela terra das enxurradas. Logo depois das primeiras curvas aquela luzinha de emergência que se acende na nossa cabeça em certas situações começou piscar e veio na minha mente a imagem do jovem cozinheiro papeando depois do trabalho e tomando um vinho no bar da esquina contando pros amigos e galera vizinha a história do brasileiro maluco que viajava sozinho por aquelas bandas.
A estradinha era um local ideal para um assalto e já fiquei imaginando uma caminhonete me esperando depois da próxima curva. A luzinha se acendeu de vez e resolvi fazer meia volta e retornar para minha rota original. Fico devendo as fotos do local, nem lembrei delas enquanto voltava pra estrada principal.
Em grupo talvez aquele caminho fosse realmente mais interessante.





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